Quem é Zuzu Angel à luz dos estudos discursivos Foucaultianos?

 Camila Ratki Krautchuk
Orientadora: Dra. Denise Gabriel Witzel
  Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Estadual do Centro Oeste (Unicentro-PR) 


VÍDEO DE APRESENTAÇÃO

      Responder à pergunta que intitula o presente trabalho, implica considerar a relação indissociável entre sujeito, discurso e história, partindo do princípio de que, para Michel Foucault, a constituição de um sujeito, mais exatamente de uma subjetividade, pressupõe práticas que podem ser de poder, de conhecimentos ou, ainda, de técnicas de si. Interessa-nos compreender esse sujeito enquanto singularidade histórica, forjada na e pela produção e circulação de discursos. 

      Nos anos de chumbo da ditadura militar no Brasil, Zuleika Angel Jones, a estilista/ativista Zuzu Angel, travou uma batalha contra o regime da época numa busca incansável pelo filho Stuart Angel. Ele fazia parte do movimento de luta armada contra o governo, o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) e, após ser preso, torturado e morto por agentes da repressão, inflamou uma série de discursos a partir do empenho incansável de sua mãe que reclamava pelo direito de enterrar o corpo do filho. Sem sucesso, ela perseguiu este ideal até o final da sua vida, silenciada num acidente de carro provocado pelos militares. 

      As questões desta pesquisa nos levam a pensar na produção discursiva que subjetiva o sujeito Zuzu Angel na obra biográfica Eu, Zuzu Angel, que procuro meu filho, de Vergínia Valli. Trata-se de uma coleção de textos de amigos próximos de Zuzu que narram sua luta, legando-nos um material de análise que nos possibilita descrever e analisar séries enunciativas a propósito de uma mulher que expôs abertamente práticas de resistência ao denunciar, em âmbito internacional, as arbitrariedades da Ditadura Militar no Brasil. Interessamo-nos pelas regularidades, pelas condições sócio-históricas de existência dos enunciados que nos possibilitam perseguir, analiticamente, os rastros da memória que instala o corpo no centro de um poder ditatorial e, desse lugar, incita a produção e circulação de discursos a respeito das práticas imemoriais do “acontecimento discursivo de enterrar o corpo”. 

      Nessa direção, valendo-nos dos Estudos Discursivos Foucaultianos, notadamente das formulações arqueogenelógicas que dão relevo aos conceitos de enunciado, arquivo, sujeito, corpo, poder/resistência e produções históricas da verdade, para analisarmos os modos de subjetivação do sujeito Zuzu Angel, tendo em conta, fundamentalmente: i) os dispositivos de poder que emergem durante a Ditadura Militar Brasileira e, ao dominarem os saberes e as práticas, promovem práticas de liberdade e resistência; ii) as curvas de enunciabilidade que trazem à tona uma memória em torno do acontecimento discursivo de "enterrar o corpo”, permitindo-nos retomar a narrativa de Antígona (Sófocles, 442a.C.), atualizada interdiscursivamente no nosso corpus de análise; iv) os dispositivos da maternidade impulsionando a mulher que quer enterrar o corpo do seu filho a se destacar na cena do político, lugar fortemente saturado de virilidade. 

      Coragem e maternidade, moda e militância política, poder e resistência. Eis alguns elementos que tramam uma narrativa sobre quem é Zuzu Angel, culminando na inscrição do nome dessa estilista e ativista política no livro dos Heróis da Pátria, em 2017. Vale sublinhar que, ao lado de Tiradentes, Zumbi dos Palmares e Getúlio Vargas, havia, até então, somente três mulheres: Anita Garibaldi, heroína da Guerra dos Farrapos, Bárbara Pereira de Alencar, heroína da Revolução Pernambucana de 1817, e Anna Nery, enfermeira que atuou na Guerra do Paraguai.




Camila Ratki Krautchuk possui graduação em Letras - Português e Literaturas de Língua Portuguesa, pela Universidade Estadual do Centro-Oeste - UNICENTRO (2017) e em Pedagogia, pelo Centro Universitário de Maringá - UNICESUMAR (2019); é Especialista em Interdisciplinaridade e Docência na Educação Básica, pelo Instituto Federal do Paraná - IFPR (2019) e, atualmente, cursa Mestrado em Letras - Interfaces entre Linguística e Literatura, pelo Programa de Pós Graduação em Letras da Universidade Estadual do Centro-Oeste - UNICENTRO (2019/2021). Em 2015/2016, atuou como bolsista do Programa Institucional de Iniciação Científica da UNICENTRO, pela Fundação Araucária. Ademais, é integrante do LEDUNI - Laboratório de Estudos do Discurso da UNICENTRO, desde 2014. Currículo Lattes. 

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