O
mundo, hoje, é um misto de tecnologias. Tanto das novas, que se tornam quase
onipresentes, como os celulares e computadores; quanto das mais antigas, que às
vezes nem são percebidas como tecnologias. É o caso da própria palavra, oral ou
escrita. Com intuito de refletir sobre essas diversas tecnologias e os seus
usos dentro das salas de aula ocorreu, no dia 21 de maio, o ciclo de palestras
“Tecnologias, Sociedade e Educação”.
O
ciclo foi idealizado pela professora do Programa de Pós-Graduação Comunicação,
Cultura e Amazônia (PPGCOM-UFPA) e da Faculdade de Letras (FALE) da UFPA,
Ivânia Neves, e tinha como objetivo aproximar pós-graduação e graduação por
meio de uma temática transversal ao campo da comunicação e das letras.
“O
circuito de palestras está no âmbito da disciplina Recursos Tecnológicos na Educação, que eu ministro no curso de
Licenciatura em Letras. E a ideia, mais do que ensinar a produzir blogs, por
exemplo, é mostrar como essas novas tecnologias estão imbricadas na nossa
sociedade. A gente tem que aprender a olhar para as diferentes mídias, que
produzem nossa identidade, e não olhar para elas de forma inocente, mas sim de
forma crítica, inclusive aprendendo a utilizar isso, até mesmo na sala de
aula”, explica a professora Ivânia.
Do ver e do ouvir
O
ciclo de palestras contou com a apresentação de três mestrandos do PPGCOM-UFPA,
os quais mostraram para um público formado por estudantes das faculdades de
Letras e de Comunicação as pesquisas que realizam no mestrado.
As
narrativas orais indígenas como processo de interação são o tema da pesquisa do
mestrando Nassif Jordy, que busca entender como se dão os processos de
interação entre as populações indígenas Tembé por meio dessas narrativas
fantásticas. A pesquisa surgiu a partir da percepção de que muitos dos
componentes mais antigos de uma série de aldeias Tembé localizadas no nordeste
paraense não lembravam mais dos seus contos de origem.
“Foi
muito curioso, pois, em uma visita realizada na região, perguntamos ao líder de
uma das aldeias se ele lembrava da história de Mairaira e Mucuraira. Ele disse
que já tinha ouvido falar, mas que não lembrava. Então vieram um garoto e uma
garota da aldeia, os dois com cerca de 18 ou 20 anos, que sabiam das histórias
e contaram elas para todos”, comenta Nassif.
Já
a mestranda Vívian Carvalho falou sobre a representação indígena em telenovelas
e minisséries veiculadas na televisão brasileira. O objetivo da pesquisa é
identificar os discursos que as novelas constroem sobre os personagens
indígenas e como tais discursos estão inscritos em momentos históricos que
permitem que os diferentes discursos sobre as sociedades indígenas sejam retomados
nas produções televisivas.
“No
Brasil, a telenovela é uma matriz cultural, de tal modo que a gente consegue
ver que as narrativas dessas produções são atravessadas pelos acontecimentos
históricos do nosso país. É por isso que não devemos estudar as
teledramaturgias como produtos isolados, mas sim a partir de suas condições de
possibilidades históricas.”, explica a mestranda.
Alguns
dos exemplos citados por Vívian foram o das novelas Aritana (1978), Uga Uga
(2000) e Araguaia (2010), as quais ocorreram em momentos muito específicos da
história do Brasil, como a comemoração dos 500 anos do descobrimento do país em
2000, e as discussões sobre a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte no
estado do Pará, que ganharam força a partir de 2010. Tanto Uga Uga quanto
Araguaia são telenovelas que têm o indígena como foco, seja o protagonista
Tatuapú na primeira ou a vilã Estela na segunda.
O
último a se apresentar foi o mestrando Otoniel Oliveira, o qual falou sobre
animação e quadrinhos e as possibilidades que essas mídias têm de representar a
identidade amazônica. “Quando se trata da Amazônia, a representação nos
quadrinhos tende a reforçar os estereótipos, como o da selva, onde os
estrangeiros vem passar por grandes aventuras ou ser comidos por jacarés. O que
a gente busca é tentar desconstruir essas referências que não tem relação com o
nosso contexto histórico e perceber como quadrinhos e animações podem retratar
questões mais locais”.
É
o caso da animação As Icamiabas,
produzida por Otoniel, a qual apresenta um trio de super-heroínas indígenas que
combatem a desordem na cidade de Belém. Os episódios trazem diversas
referências ao imaginário amazônico e ao espaço paraense, como a Cobra Grande e
o Ver-O-Peso.
A
estudante do 9º semestre do curso de Letras, Cristiane Oliveira, explica que
achou o circuito de palestras muito interessante, pois possibilitou ver, ao
mesmo tempo, a importância das tecnologias e da contextualização histórica e
social no âmbito educacional. “É preciso saber olhar o aluno não como uma
tábula rasa, mas levar em consideração os contextos em que esse aluno está
inserido. A gente vive em um mundo em que os recursos tecnológicos estão cada
vez mais em evidência e é muito bom poder utilizar isso em sala de aula,
justamente por causa desses contextos que podem ser observados”, afirma.
Gleicy
Corrêa, estudante de jornalismo, achou as palestras muito importantes,
principalmente pelas discussões sobre a representação dos povos indígenas. “Eu
pretendo estudar no meu TCC a representação da mulher indígena na TV e estava
encontrando dificuldades em achar materiais sobre o assunto, então eu vim
porque vi que ia ser apresentado o trabalho da Vívian. É muito importante
discutir sobre as questões relacionadas aos indígenas, pois mesmo eu, que tenho
descendência indígena e um envolvimento pessoal com o assunto não conheço muito
a temática”.
Ainda tem mais
No
dia 04 junho ocorre a segunda parte do ciclo de palestras “Tecnologias,
Sociedade e Educação”. Na ocasião, mais três mestrandos do Programa de
Pós-Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia irão apresentar as pesquisas que
desenvolvem. As palestras ocorrerão no auditório do Bloco K, no Campus Básico
da UFPA, em duas sessões: das 9h20 às 12h20 e das 19h às 22h. O evento é aberto
a todos os interessados e os participantes receberão certificados.
SERVIÇO
Ciclo
de Palestras Tecnologias, Sociedade e
Educação
Dia
04 de junho, no auditório do Bloco K, em duas sessões: das 9h20 às 12h20 e das
19h às 22h.
Os
participantes receberão certificados.
Texto: Dilermando Gadelha
Cartaz: Otoniel Oliveira
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