Língua Nheengatu Oriental
Língua Nheengatu Oriental
Entre os Rios Tapajós, Arapiuns e palavras em Nheengatu
A língua Nheengatu faz parte da grande família linguística Tupi-Guarani e pertence ao trono linguístico Tupi.
Um pouco da história do Nheengatu
O território onde hoje se
localiza a região norte do Brasil só começou a ser integrado aos domínios
lusitanos no início do século XVII, com a fundação de São Luiz. Essa segunda
colônia vai se chamar Grão-Pará e Maranhão e depois vai se desobrar em outras
províncias.
Desde o início, já com a experiência vivida no litoral
brasileiro, os missionários da Companhia de Jesus, novamente entraram em
contato com a língua Tupinambá, falada amplamente no litoral da região, e
passaram a denominá-la de Língua Geral Amazônica, ou Nheengatu. Esses
missionários foram responsáveis por espraiar essa língua no interior da
Amazônia, mesmo entre povos que não falavam línguas do tronco Tupi. Ela passou
a ser língua da catequização.
Missões Religiosas no Grão-Pará e Maranhão |
Foram, sobretudo os missionários
jesuítas, os principais responsáveis pela criação das primeiras escolas na
Amazônia, assim como aconteceu nas primeiras regiões colonizadas do
Brasil. Em 1757, quando Marques de Pombal decretou a expulsão da Companhia de Jesus
dos domínios portugueses, o Nheengatu deixou de ser uma estratégia do
colonizador e, em muitos territórios, passou a significar a língua identitária
de muitas sociedades indígenas.
Depois da expulsão dos jesuítas, não foram poucas as iniciativas
de apagar as línguas indígenas e a perseguição sistemática ao Nheengatu.
Efetivamente, o Estado Português adotou como política a imposição da língua
portuguesa nas duas colônias americanas. Essa determinação obteve sucesso no
Brasil, mas na Amazônia a complexidade da região estabeleceu um grande
obstáculo ao seu cumprimento.
No final do século XIX, o poeta Gonçalves Dias, incumbido por
uma missão do Império Brasileiro, esteve no estado do Amazonas para avaliar os
índices negativos das escolas. Em seu relatório, a conclusão principal para a
dificuldade era a língua falada pelos alunos, o Nheengatu.
Uma revolução em curso no Baixo Tapajós
Representações dos Povos Indígenas do Baixo Tapajós |
No Baixo Tapajós há 13 povos
indígenas, dos quais 12 retomaram o Nheengatu como sua língua. Representados
pelo Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns – CITA, os povos do Baixo
Tapajós são: Arapium, Apiaká, Arara Vermelha, Borari, Jaraki, Maytapú,
Munduruku, Munduruku Cara Preta, Kumaruara, Tapajó, Tupaiú, Tupinambá e Tapuia.
Estes povos estão distribuídos em 70 aldeias, com aproximadamente 20
territórios ocupados por cerca de 8 mil pessoas que vivem nas aldeias rurais do
Baixo Tapajós.
Em Janeiro do ano de 1999 o Grupo Consciência Indígena – GCI,
formado por jovens militantes universitários, professores e oriundos de
comunidades rurais e descendentes dos povos indígenas da região, organizou em
Santarém a primeira oficina de Nheengatu. Com a implantação em 2007 da educação
escolar indígena pela prefeitura de Santarém, Aveiro e Belterra, o movimento
indígena reivindicou o ensino da língua Nheengatu nas escolas municipais
presentes nos territórios indígenas. Em 2010, quando a reivindicação foi
atendida, surgiu a necessidade de ofertar uma capacitação formal da língua
Nheengatu aos professores indígenas.
De
acordo com Vaz Filho e Silva Meirelles (2019, p.111) “foi nesse contexto que
surgiu o Curso de Nheengatu, oferecido pelo GCI e pela Diretoria de Ações
Afirmativas (DAA) da Universidade Federal do oeste do Pará (UFOPA), como um
curso de extensão desta instituição. O projeto de extensão Curso de Nheengatu
consistia em uma preparação de indígenas com assessoria de professores
indígenas do rio Negro (AM) e pesquisadores acadêmicos vindos de universidades
em São Paulo. O Curso tinha uma Carga Horária total de 360 horas divididas em
quatro módulos de um mês cada. As aulas aconteceram no Centro Indígena Maira,
da Custódia São Benedito da Amazônia (Frades Franciscanos), importante parceira
do Curso de Nheengatu, junto com Grupo de Pesquisa LEETRA (USP/UFSCAR) e
outros”. O processo de reinscrição da língua Nheengatu no Baixo Tapajós (SILVA
MEIRELLES, 2020) é também um processo de resistência ao Governo da Língua.
Referências:
VAZ FILHO, Florêncio Almeida. A emergência étnica de povos indígena no
baixo rio Tapajós, Amazônia. Tese (Doutorado em Ciências Sociais/Antropologia).
PPGCS-Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2010.
A
produção do Conhecimento nas Letras, Linguísticas e Artes 3.indd
(atenaeditora.com.br)
Silva Meirelles, Sâmela Ramos da. A reinscrição de uma língua destituída :
o Nheengatu no Baixo Tapajós. Tese (Doutorado em Linguística).
Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem, São
Paulo, Campinas, 2020.
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