Sobre narrativas orais indígenas: tempo e relações de poder
Desde 1998, realizo projetos com
sociedades indígenas Tupi e o contato com suas narrativas orais
demonstrou como elas organizam-se em diferentes temporalidades. O
apagamento dessas diferenças imposto pelo sistema colonial criou a
ficção de um tempo universal da história. Neste artigo, analiso
diferentes temporalidades das narrativas orais Tupi. Para isso,
desenvolvo, primeiro, uma reflexão sobre o processo de naturalização do
tempo ocidental e sua importância na escrita da história universal,
enunciada pelas línguas europeias, revisito as críticas feitas sobre o
tempo etnográfico e as divergências entre tempo e representação nos
estudos da linguagem. Na segunda parte, descrevo diferentes
temporalidades das línguas tupi relacionadas à criação do lua e analiso a
narrativa oral “Kwarahy, Sahy, Sahy-Tatawai e o fogo Suruí” do povo
indígena Suruí-Aikewára, a partir das formulações de Michel Foucault
(2005) sobre tempo descontínuo e genealogia e procuro mostrar como as
condições de possibilidades históricas atravessam o tempo cosmológico
dessa sociedade.
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