Narrativas Orais Tembé-Tenetehara: percursos etnográficos, memórias e resistências
NASSIF RICCI JORDY FILHO
Resumo: Em 1996, na
Terra Indígena Alto Rio Guamá, setenta e sete Tembé-Tenetehara foram sequestrados, aprisionados e torturados por
fazendeiros invasores. Submetidos durante três dias a
condições sub-humanas, sem comida, sem água e num espaço mínimo, onde não
podiam todos deitar ou até sentar ao mesmo tempo, os
77 indígenas foram ameaçados de morte e obrigados a assinar documentos onde
abririam mão de suas terras. Em 2014, quase vinte anos depois, um
desses 77 Tembé-Tenetehara, o cacique Naldo Tembé, nos conta essa história
silenciada por todo esse tempo, inclusive pelos próprios Tembé. As narrativas
orais Tembé-Tenetehara, tanto as cosmológicas quanto as políticas, fazem parte
da cultura deste povo, e é através delas que eles resistem, travando uma
batalha em busca da verdade. Esta pesquisa de dissertação pretende analisar as
narrativas orais, contadas por Naldo Tembé, cacique da Aldeia Sede e vereador
na cidade de Santa Luzia do Pará, Lourival Tembé, maior autoridade para contar
as narrativas cosmológicas, Bewãri Tembé, professor de língua Tenetehara,
América Tembé, liderança feminina nas aldeias Tembé, Kudã Tembé, professora de
língua Tenetehara e Edmilson Tembé, guerreiro deste povo. Nestas narrativas
orais, Lourival, com destreza de exímio contador de histórias, entra em outro
tempo, diferente do nosso (judaico/cristão), o kwehê Dekwehê, ou “no tempo dos ancestrais”, para atuar em uma
lógica outra, bem distinta da lógica ocidental e eurocêntrica. Enquanto Naldo,
com a firmeza de uma liderança, nos conta histórias bem diferentes das
histórias oficiais, que conhecemos através dos documentos da FUNAI. Dentro do
discurso deste povo, séries de acontecimentos são silenciados pelo discurso
oficial. A análise das narrativas orais propostas aqui vê e trata essas
histórias como acontecimentos (FOUCAULT, 2013) que modificam as relações de
poder entre os indivíduos dessa sociedade, evidenciando uma memória subterrânea
(POLLAK, 1989) e um sujeito no presente de uma trama histórica (FOUCAULT,
2005), considerando assim, principalmente, a constituição dos poderes e saberes
Tembé-Tenetehara.
Palavras-Chave: Tembé-Tenetehara, Narrativas
Orais, Acontecimento, Verdade
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